Localizado em pleno Príncipe Real, o restaurante Faz Frio é uma ode à gastronomia tradicional portuguesa desde 1872, ano da sua abertura.
O atual proprietário é Jorge Marques, que chegou ao restaurante há sete anos com o objetivo de tentar fazer “uma tasca portuguesa em 2070”, conforme revelou em entrevista ao Vou Sair.
O responsável trabalhou fora de Portugal, mas sempre ligado à indústria, passando por países como Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Noruega e Japão. “Depois de andar com a casa às costas estes anos todos, achei que estava na hora de tentar a minha sorte em Lisboa e trazer toda a minha experiência para Portugal.”
Questionado sobre o porquê deste e não de outro restaurante, Jorge Marques explicou que o Faz Frio é “um dos clássicos” de Lisboa, que infelizmente “estava um pouco esquecido”.
Outrora ‘Antiga Casa Faz Frio’, o restaurante era um espaço de convívio no regime de ditadura. Nesta altura, conta Jorge, “era proibido as pessoas se encontrarem em grupos maiores de três, pois seria considerado uma conspiração contra o Estado”.
A par disto, o fundador decide compartimentar o restaurante e, quando a PIDE passava, olhava para dentro do espaço e não via ninguém. Quando entrava no restaurante, quem estava ao balcão fazia um sinal e os clientes fugiam pelas traseiras. Situado no topo de uma colina, as duas portas quando estavam abertas faziam corrente de ar, ficando desta forma conhecido como o “Faz Frio”.
O código para os moradores se encontrarem, sem dizer o nome do restaurante, era: “vamos ao sítio onde faz frio”, para que as pessoas não percebessem onde era o local de encontro.
A decoração mantém-se a mesma: “quando abri o restaurante tinha 25 anos e eu não tinha história nenhuma para contar. Por outro lado, o restaurante está cheio de história, por isso a ideia aqui foi enaltecer o que havia e há cá.”
No que toca ao menu, alguns pratos seguem o ritmo da natureza e vão mudando sazonalmente. Contudo, as especialidades mantêm-se. Durante todo o ano, os clientes podem degustar dos já conhecidos ‘peixinhos da horta’, ‘camarões salteados’, ‘pica-pau do lombo’, ‘croquetes de alheira’ e ‘brás de trufas e cogumelos’.
Como planos futuros, Jorge Marques pretende implementar um sistema de takeaway no restaurante, com o intuito de “vender produtos que sejam difíceis de fazer em casa”.
Assumindo-se como um restaurante para “todo o tipo de ocasiões”, o Faz Frio está aberto todos os dias, das 12h às 00h.
Uma viagem pelos sabores nacionais
A nossa visita ao Faz Frio começou pelo tradicional couvert português, com manteiga vinda dos Açores, temperada com flor de sal e paprika; húmus de tremoço, com sumo de limão, azeite de ervas, orégãos e azeitonas; e pão artesanal.
De seguida, provámos os deliciosos e bem confecionados croquetes de alheira, que são acompanhados por dois tipos de mostarda, que dão acidez na medida certa.
Dos croquetes, passámos para os camarões salteados, que, além do sabor intenso, é um prato leve e agradável. Por fim, experimentámos o pica-pau do lombo, acompanhado de batata frita caseira e maionese. O pica-pau é divinal, a carne é de boa qualidade e desfaz-se na boca. Este foi, sem dúvida, um prato que nos surpreendeu pela positiva graças à sua qualidade e sabor.
Para terminar a refeição, pedimos a saborosa mousse de chocolate com amêndoa, que dá facilmente para duas pessoas, e o “não é bolo, nem é pudim”, uma sobremesa que equilibra na perfeição o doce do pudim e o ácido do bolo.
