O Vou Sair teve a oportunidade de conhecer o Le Bleu, o mais recente projeto do chef Kiko Martins, com inspiração no Atlântico, onde nem tudo é aquilo que parece. Esta é a ideia condutora do chef para cada um dos seus pratos, já que, de forma muito criativa e lúdica, permitiu-se ir mais além e criou de raiz, com produtos e técnicas novos, um menu totalmente inovador.
A arquitetura art déco do prédio, situado em Campo de Ourique, salta-nos à vista ao chegarmos ao restaurante. No interior, o próprio espaço remete-nos imediatamente para o conceito por trás do menu do Le Bleu. Com a ajuda do arquiteto João Louro, aquele que foi durante muitos anos um talho conhecido por grande parte dos moradores do bairro transformou-se numa alegoria ao oceano em tons de azul e branco. Todo o espaço remonta-nos ao Atlântico, a grande inspiração de Kiko Martins para este restaurante, que se afirma como um passo adiante na evolução da cozinha do chef.
Segundo o chef, “este é um espaço totalmente dedicado ao peixe e marisco, trabalhados com técnicas modernas”, mas não é apenas na comida que se sente esta dedicação. Começámos por ser introduzidos ao menu de cocktails que, para nossa surpresa, nos eram completamente desconhecidos. Criações totalmente inovadoras, como o Bianconi (um Negroni branco com tequila em vez de gin) ou o Fluffy Mary (uma versão do Bloody Mary que leva espuma de ostras), foram desenvolvidas pela equipa para não destoarem de tudo o resto.
Para a criação do Le Bleu, Kiko Martins decidiu concentrar-se na cozinha e deixar a gestão para outros elementos da sua equipa. O chef decidiu que não queria jogar pelo seguro nem repetir fórmulas já conhecidas, apostando por isso em técnicas diferentes, mais elaboradas, com novos ingredientes e combinações, que lhe exigiram um esforço extra e muitas horas de testes e experimentação.
Todas as entradas são à base do conceito de finger food – pequenas, mas saborosas porções – cada uma com uma diferente explosão de sabores. Os pratos são idealizados para serem divertidos, inesperados e comidos em duas ou três dentadas – a começar pelo pequeno amuse-bouche, oferta do Le Bleu, de cavala marinada sobre uma base gelada que se come à mão e derrete na boca. Já as ostras da Ria Formosa (8,9€) são irresistíveis até para quem lhes torce habitualmente o nariz, por virem envoltas em creme e espuma de ostras com chalota e um final picante devido ao uso de jalapenhos.
Mas o que nos surpreendeu mais foi o bacalhau à brás (9,3€), completamente diferente – tanto em aspeto como em tamanho – daquele que comemos em casa. Desde o bacalhau e batata até às azeitonas, o prato inclui todos os ingredientes que um típico bacalhau à brás deve levar, tudo envolvido num pequeno cilindro.


Amuse-bouche

Nos pratos principais a ilusão mantém-se. É o caso do seu Wellington (76,3€ para 2 pessoas), onde a carne foi substituída por pregado, camarão Black Tiger e espinafres, envoltos em massa estaladiça. A receita levou tempo para ficar no ponto desejado e é hoje um dos ícones da carta, com direito a serviço old school em carrinho e fatiada à nossa frente. Experimentámos ainda o polvo e enguia no carvão (28,6€), que no início fomos enganados por parecer queimado, mais uma vez uma brincadeira do chef, de forma a remeter para o típico prato português – polvo assado no carvão.



O menu termina com quatro opções de sobremesas, das quais provámos a mousse de crème fraîche e granizado de romã (7,4€), com um toque de frescura e delicadeza no paladar. Mais uma vez, é um daqueles pratos que não é exatamente aquilo que parece, cujo segredo está numa salada de espargos brancos escondida debaixo de um véu. Entre as sobremesas destaca-se também o Mont-Blanc (9,4€), inspirado na Floresta Negra do chef Heston Blumenthal, que ao chocolate e ao toque da ginja portuguesa acrescenta uma cereja no topo feita de avelã com uma haste feita de tomilho tostado.
No Le Bleu, o final de uma refeição pode ser tudo menos convencional. O chef Kiko Martins desafia-nos a abandonar a ideia de que as sobremesas e o café encerram o momento à mesa, ao propor dois cocktails únicos — Crème Brûlée (13,2€) e Pain au Chocolat (12,8€). Inspirados em clássicos doces, mas reinventados de forma inesperada, estes cocktails passam por um processo de destilação de 48 horas. O resultado? Bebidas delicadas, de sabor marcante, mas surpreendentemente leves e pouco doces. Uma maneira surpreendente e inovadora de encerrar esta experiência gastronómica, de forma criativa, lúdica e inesperada, que reflete a essência do Le Bleu, do primeiro ao último momento.
Horário:
- Segunda-feira: Encerrado
- Terça-feira a Quinta-feira: das 19h às 23h
- Sexta-feira a Sábado: 12h às 15:30h e das 19h às 23h
- Domingo: Encerrado