Por Paulo Pavão

O convite do Turismo do Zimbabwe chegou e nem podia acreditar. Estavam a convidar-me para uma viagem de inspeção no país e participar numa feira de turismo que organizam anualmente (desde há 15 anos) com o nome de Sanganai /Hanganani.

Ok, vamos lá fazer as malas e embarcar com destino a um país tantas vezes esquecido pelos viajantes, não fossem as décadas marcadas pela grande crise instalada em resultado da opressão política e social, que retirou também o Zimbabwe das rotas aéreas internacionais.

A república do Zimbabwe é um país da África austral com cerca de 14,8 milhões de habitantes e com uma área de 390 500 km2. Trata-se de um país interior, sem acesso ao mar, mas possui um grande lago artificial a norte, o Lago Kariba. A população é maioritariamente católica cristã (84%) e falam 16 línguas oficiais, sendo as mais importantes o inglês e o shona. O clima é subtropical e a estação das chuvas ocorre de outubro a março. Grande parte do país é coberto por savana, mas na zona norte chamada de “highlands” existe alguma floresta tropical.

O país conquistou a independência apenas em 1980 com a eleição de Robert Mugabe, que acabou por estar no poder até 2017. Economicamente exporta alguns minerais (platina, lítio e ouro) e alguma agricultura (tabaco, açúcar e chá). Antigamente eram bons produtores de café, mas a política de expropriações aplicada durante anos acabou por reduzir drasticamente a sua produção. O Turismo tem vindo a ser cada vez mais uma parte importante das receitas do país, mas muito trabalho ainda precisa de ser feito. O dólar americano foi a moeda adotada em 2009 de forma a controlar a oscilação dos preços. No entanto, de forma local ainda se usa o dólar do Zimbabwe.

Harare é a capital com cerca de 1,4 milhões de habitantes e é o centro administrativo, comercial e de comunicações do país. É uma cidade moderna e bem planificada de traçados ortogonais, com ruas e avenidas largas, arborizadas com jacarandás e acácias que dão um colorido muito especial à cidade. Existem várias catedrais anglicanas e católicas romanas, a Biblioteca e Museu Memorial da Rainha Vitória, os Arquivos Nacionais, a Universidade do Zimbabwe (inaugurada em 1957) e a Galeria Nacional de Rodes.

Hoje em dia Harare é basicamente uma cidade de negócios, mas pode ser um ponto de partida para alguns itinerários turísticos, uma vez que possui um dos 3 aeroportos internacionais do país juntamente com Victoria Falls e Bulawayo.

A minha viagem começou em Harare. A forma mais prática para aqui chegar será utilizar a grande porta de entrada de muitos dos destinos turísticos da África Austral e que é, sem dúvida, o Aeroporto Internacional de Joanesburgo, O.R.Tambo. Daí apanhar algumas das opções aéreas disponíveis, nomeadamente a South African Airways, a Airlink, a Fastjet ou a Air Zimbabwe, uma vez que todas elas voam diretamente para Harare numa curta viagem de cerca de 1h30 minutos. Outras opções são a Emirates ou a Qatar Airways, mas sempre com escala em Lusaka na Zâmbia

Para quem apenas se desloca a Harare em negócios pode aproveitar para ter uma experiência com animais selvagens, escolhendo entre um pequeno almoço, almoço ou jantar “on the bushes with animals”. Fica a dica!

Deixando Harare com destino a norte, a primeira paragem seria para visitar as famosas “Chinhoy Caves”, consideradas uma das maravilhas do Zimbabwe. As paredes da gruta caem de uma altitude de 150 metros em direção a uma piscina de cor azul que também é utilizada para mergulho. Para quem está em Harare pode aproveitar para fazer esta visita de 1 dia (1h 30 de viagem).

Segue-se a próxima paragem em Kariba, cidade principal da zona norte, conhecida pela sua grande barragem edificada entre a Zâmbia e o Zimbabwe, que deu origem ao famoso lago kariba com cerca de 280 km de comprimento, alimentado pelo rio Zambeze. O lago Kariba é aproveitado por algumas empresas turísticas para realizar cruzeiros de alguns dias, pois o lago é rodeado de alguns parques naturais como o “Matusadona National Park”, onde se podem realizar safaris e ver alguns animais como leões, elefantes, búfalos, impalas, hipopótamos, crocodilos e uma grande variedade de aves. Grande parte dos cruzeiros que se oferece nesta zona é de 2/3 dias, mas há opções para cruzeiros de maior duração.

A este de Kariba e na margem sul do rio Zambeze encontra-se o “Mana Pools National Park”, reserva natural da Unesco, com uma grande oferta de alojamento/lodges. Um paraíso para caminhadas e safaris de canoagem, Mana Pools é um parque de maravilhas, rico em vida selvagem e biodiversidade.

Na zona oeste do lago também se realizam várias rotas de cruzeiros com partida na localidade de Binga. Neste caso, são uma boa opção para combinar com uma estadia com Victoria Falls e no lago Kariba.

Algumas companhias aéreas privadas utilizam aeródromos e pequenas pistas de alguns lodges para facilitar as distâncias e evitar o desperdício de tempo via terrestre. Os operadores turísticos locais conseguem apoiar os viajantes nesse sentido.

Finalmente chegamos a Victoria Falls, o ex-libris turístico do Zimbabwe e que recebe cerca de 1 milhão de visitantes por ano. Aqui é possível chegar de forma direta sem passar por qualquer outro destino no Zimbabwe. Existem voos diretos a partir de Joanesburgo e Cape Town com a Airlink, de Windhoek em voo triangular da Eurowings e de Nairobi com a Kenya Airways.

É um destino por excelência e a não perder para quem quer viajar por esta zona do globo e ter uma incrível experiência de natureza no seu máximo esplendor. A oferta de alojamento é muito grande e variada em termos de preços, ajustando-se a qualquer tipo de orçamento. Ficando no centro da cidade facilmente se chega a pé ao Parque Nacional das Cataratas Vitória, aos restaurantes e às pequenas lojas de artesanato e comércio local.

Como importante informação para quem chega em voo internacional, é possível solicitar à entrada, o visto ZIM/ZAM que custa 50 dólares e que permite a entrada consecutiva no Zimbabwe e na Zâmbia. É bom saber que quem quiser cruzar a fronteira pode faze-lo a pé, o que é sempre uma experiência memorável, e entrar na Zâmbia para poder admirar as Cataratas do outro lado (ambos são recomendáveis). Em qualquer das margens há que pagar uma entrada de acesso ao parque natural.

A melhor altura para visitar as Cataratas é entre os meses de janeiro e junho, quando existe mais caudal no rio Zambeze. Para a visita é imprescindível levar um bom impermeável e uma proteção para os telemóveis e câmaras fotográficas devido à chuva provocada pela vaporização da água com a força da queda. Do lado do Zimbabwe o percurso tem bastantes miradouros, sendo que um dos melhores spots fotográficos fica perto da estátua de David Livingstone onde se consegue observar a famosa “devil’s fall“.

Para quem viaja na estação seca (de julho a dezembro), existe menos água nas quedas, mas é possível fazer atividades de rafting e tomar banho na famosa “devil’s pool” com acesso através da Zâmbia e que é uma piscina natural localizada junto à falésia.

Outras atividades a não perder em Victoria Falls são:

  • Sunset Cruise no rio Zambeze onde se podem observar crocodilos, hipopótamos, elefantes e algumas aves, ao mesmo tempo que se assiste ao fantástico pôr do sol africano que nos deixa sempre memórias inesquecíveis.
  • Passeio de helicóptero, voando por cima do parque nacional das cataratas. É imperdível e as imagens são de cortar a respiração (existem passeios de 15 e 25 minutos). As 3 empresas que realizam estes passeios fazem pick-up nos vários hotéis e encontram-se a curta distância.
  • Jantar no tradicional BOMA, onde se pode degustar várias carnes de caça e gastronomia local, sendo acompanhado de alegre animação.
  • Para quem quiser dar um saltinho ao país vizinho Botswana, fica a dica de que é possível realizar um safari no “Chobe National Park”, onde existe a maior concentração de elefantes africanos, e regressar no mesmo dia. A fronteira está a apenas 1 hora de Victoria Falls.

Depois desta magnífica experiência junto ao rio Zambeze, há que continuar viagem. Em 2 horas de caminho entramos no “Hwange National Park”, o mais emblemático parque natural do Zimbabwe. Neste parque habita a maior variedade de animais, incluindo os tão desejados Big 5. Safaris de observação de aves estão também disponíveis.

A oferta de alojamentos é bastante grande, na maioria de propriedade privada, tanto dentro do parque como nos arredores, como: Davidson’s, Forever Safaris, Ivory Lodge, Little Makololo, Somalisa Acacia, entre outros.

A visita a este parque é uma excelente opção para combinar com Victoria Falls, especialmente para quem não tem muitos dias ou pretende combinar Zimbabwe com outro destino da Africa Austral.

No meu caso e uma vez que o convite incluía conhecer um pouco mais do país, segui viagem para a próxima paragem, onde iria presenciar uma maravilhosa experiência de natureza no “Matobo National Park”. Este parque fica situado a cerca de 60 minutos a sul de Bulawayo, a segunda principal cidade do Zimbabwe.

O parque não prima tanto pela diversidade animal, mas sim pela particularidade da sua paisagem orográfica. O “Matobo National Park” forma o núcleo das colinas de Matopos, uma área de formações rochosas de granito formadas há mais de 2 biliões de anos e que devido à erosão foram forçados a subir à superfície, produzindo pedregulhos e esferas graníticas que se estendem aleatoriamente por todo o parque e que proporcionam vistas de cortar a respiração. Em redor existem vales impressionante e com bastante vegetação.

Neste parque também existem girafas, zebras e os tão famosos rinocerontes brancos. O alojamento não é muito vasto, mas ainda assim existem cerca 4 Lodges para quem pretende pernoitar.

A última paragem do meu itinerário seria em Bulawayo, a cidade que iria acolher a Sanganai Tourism Expo. Esta cidade com uma traça colonial forte é considerada a cidade dos príncipes e princesas. Trata-se de uma cidade plana de traçado também ortogonal e cheia de vida local, de mercados, cores, cheiros e população simpática e descontraída.

O Zimbabwe possui no seu território, importantes ruínas (algumas delas deixadas pelos portugueses) e que estão classificadas como lugares de atração turística. O “Great Zimbabwe Monument”, é complexo de ruínas mais emblemático e considerado património mundial da UNESCO. Trata-se daquela que foi a capital do grande reino do Zimbabwe durante a idade do ferro e onde existia o palácio real usado como sede do poder político da era. A grande característica ainda visível são as impressionantes paredes de 5 metros de altura.

O itinerário pelo Zimbabwe chegou ao fim, mas faz manter ou acentuar o desejo em continuar a explorar estas terras africanas que tanto têm para oferecer e surpreender àqueles que por elas se aventuram. Só assim se consegue conhecer e entender os hábitos, costumes e tradições. Para quem quiser viajar por estas paragens, aconselho uma boa planificação geográfica para poderem conhecer vários países que são muito próximos e uma vez que hoje em dia existem também boas ligações aéreas internas.

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