Farol da Barra, Créditos: Edson Junior/Unsplash

Filipe Batista*

Quem chega a Salvador da Bahia, no Brasil, depara-se rapidamente com um local carregado de história. Outrora capital brasileira, a primeira, esta cidade do nordeste brasileiro é atualmente a quarta maior do país e encerra em si um património cultural, arquitetónico e gastronómico ímpar. Mas há muito mais para descobrir em Salvador da Bahia, a terra onde nasceram inúmeros nomes da cultura e das artes, como Jorge Amado, Gilberto Gil ou Maria Bethânia e que acolheu muitos outros, como Vinicius de Moraes.

O Vou Sair esteve nesta cidade, a convite do operador turístico Soltrópico e da TAP e revela-lhe as várias possibilidades, que passam por perder-se na cidade durante dois dias e depois escolher a zona das praias para usufruir desta costa nordestina. As possibilidades são variadas, desde escolher um dos muitos resorts, localizados a quarenta minutos de carro ou então embarcar numa aventura de duas horas e meia até ao Morro de São Paulo.

Forte presença religiosa

Mas essas são outras opções. Por agora, vamos focar-nos na capital Baiana e começamos pelo seu centro histórico, onde a presença portuguesa está ao virar de cada esquina. Aqui, rapidamente deixamos de olhar para o Brasil como apenas um destino de praia. À medida que galgamos as ruas irregulares feitas de paralelos, ao longo dos quais se estendem algumas das cerca de cinquenta igrejas erguidas na cidade e que fazem parte das 372 construídas nesta região.

A mais conhecida e vistosa de todas elas é, sem dúvida, a Igreja do Nosso Senhor do Bonfim. Localizada na Sagrada Colina, em Itapagipe, tornou-se conhecida pelas fitinhas de várias cores que se colocam no pulso e que são vendidas pelos vendedores que nos apanham logo à saída do carro e são bastante insistentes. Antídoto: Regra geral, todos os hotéis oferecem destas pulseiras, pelo que se já levar uma no pulso fica mais fácil escapar à “investida”. Depois é só perder-se dentro desta igreja feita em estilo Neoclássico, com duas torres.

De volta ao centro histórico, a igreja de São Francisco, na zona do Pelourinho, é outro ponto de paragem para quem quiser ver o estilo Barroco do seu interior, forrado a ouro. No mesmo estilo, encontra também a basílica de Nossa Conceição da Praia, no Bairro do Comércio. A nossa visita prossegue pelo Pelourinho, onde se situa a maior parte das atrações turísticas da cidade e onde se encontra um marco de má memória: Uma coluna de pedra que dá nome ao bairro e onde eram expostos e amarrados os escravos, para depois serem chicoteados em praça pública. Foi aqui, no centro histórico de Salvador da Bahia, que nasceu um dos primeiros mercados de escravos da América e que a UNESCO classificou como Património Cultural, para que a memória não esqueça.

Foram precisamente os escravos africanos que deram origem à religião afro-brasileira que ainda hoje é muito forte na Bahia: o Cadomblé, com os seus Orixás. Sandro Macedo, guia local, explica-nos que “quando os africanos chegaram à Bahia eles tinham a sua religião e eram proibidos de exercê-la. Tinham que ser católicos. Então, muitos dos que visitavam igrejas viam a imagem de santos e faziam comparação com os seus orixás”.

Foi desta forma que começou o sincretismo religioso. “O orixá mais importante para o Candomblé é o Oxalá e aí ficou o Jesus Cristo. A Iemanjá, rainha do mar, para eles do Candomblé, virou justamente a Nossa Senhora da Conceição. A Iansã é Santa Bárbara na igreja católica. Ogum é Santo António. Isso chama-se sincretismo religioso”, afirma.

Uma das maiores festas religiosas da Bahia tem precisamente origem num dos orixás: Iemanjá, a deusa do mar. “É uma festa popular muito bacana no dia 2 de fevereiro. No bairro do Rio Vermelho, na Casa do Peso, onde tem a Casa de Iemanjá, as pessoas vão até lá, depositam os seus presentes, principalmente flores. No final da tarde, os pescadores saem com as embarcações, com esses balaios e a várias milhas da costa jogam no fundo do mar. A tradição de sempre é que no dia seguinte, quem entregou vem ver se foi aceite ou se foi devolvido o presente pelo mar. E os curiosos que não deram nada vêm ver se sobrou algo interessante”, revela.

A mesma padroeira de Portugal

Do lado católico, as semelhanças com Portugal são obviamente muitas pelos laços históricos e Sandro conta que gosta de desmistificar erros enraizados por quem visita Salvador da Bahia. “As pessoas que vêm para cá eu pergunto aos turistas brasileiros quem é o padroeiro de Salvador e eles respondem Senhor do Bonfim. É São Francisco Xavier o padroeiro de Salvador”, corrige.

Os portugueses também não escapam à aula. “A padroeira do Estado da Bahia é Nossa Senhora da Conceição. E porquê? Nós pertencemos a Portugal na colonização portuguesa e a padroeira de Portugal é ela. A maior parte dos portugueses não sabe quem é a padroeira de Portugal. Acha que é Nossa Senhora de Fátima, mas não é. É Nossa Senhora da Conceição e celebra-se no dia 8 de dezembro”, elucida o guia.

Elevador Lacerda e mercado Modelo

O colorido das casas da zona do Pelourinho ajudam a desdramatizar um período negro da presença portuguesa no Brasil e é por elas que passamos quando regressamos pelas ruas a caminho de mais duas atrações da cidade: O Elevador Lacerda e o Mercado Modelo, junto à zona portuária. Construído em 1873 para ligar a zona alta à zona baixa da cidade, o Elevador Lacerda é o primeiro elevador público do género, a nível mundial. Já o mercado é definido com o maior centro comercial de artesanato do Brasil. Atualmente em obras de recuperação, este espaço comercial conserva uma atmosfera do passado, com pequenas tabernas no seu piso 0, servidas por uma esplanada exterior. Neste espaço pode saborear as típicas Muquecas Baianas e outros pratos típicos.

IMG_0868-scaled-768x1024 Reportagem | Salvador da Bahia: A cidade onde tudo é grande, até a vontade de voltar

Antes do elevador Lacerda existir, a passagem entre a zona alta e baixa da cidade era feita pela ladeira da Montanha. Sandro conta que a mesma ficou conhecida por causa das ligações à prostituição. “Ali era a concentração dos militares e dos homens casados que saíam para a noite em busca de festa. Então aquela zona chamava-se o ‘baixo meretrício’. A Ladeira da Montanha é onde havia “a famosa casa da Luz Vermelha”, nome que ficou conhecido em Portugal por causa da novela Tieta do Agreste.

Este Carnaval é só para duros

Em Salvador da Bahia tudo é em grande, como já se constatou, e as épocas festivas também o são, sejam de origem religiosa ou outras, como o Carnaval. Tal como em Portugal, também aqui se celebram os santos populares. Aquando da nossa visita, estava ainda a terminar o São João e foi possível ver os despojos de uma festa rija como os baianos tanto apreciam e que tem o seu expoente máximo no famoso Carnaval da Bahia.

Tão conhecido como o Carnaval do Rio de Janeiro, é considerado pelos locais como o maior e melhor Carnaval do Mundo. Explicam-nos que este é um Carnaval do povo que sai à rua e não não se confina a um sambódromo. Descrevem-no ainda como uma festa inclusiva e que não é tão elitista como o do Rio de Janeiro. Aqui, na Bahia, qualquer trapo pode ser uma máscara e o cortejo segue pelas ruas ao lado do povo.

Sandro confirma e diz que os dois carnavais não têm nenhuma comparação possível. “O Carnaval do Rio é o Carnaval do Luxo. Ele não concorre com Salvador. São Paulo está hoje a tentar concorrer com o Rio: é um desfile. Salvador não. Se tiver uma bata, você sai. Se você for para um camarote você entra e está lá dentro. Mas se você não tem isso aí tem um nome chamado Pipoca. Sabe o que é? Pipoca é aquele que não tem condições de pagar ou não quer e sai na rua ao lado do trio elétrico e aproveita da mesma forma. É mais popular: é do povo”, esclarece.

A festa é tão grande, que os locais focam-se nela durante todo o ano e durante os dias dos festejos mal vão à cama. A hotelaria da cidade esgota de um ano para o outro, portanto, se quer experimentar, avance com as reservas atempadamente. E prepare-se, este Carnaval de duas semanas, que se espalha em três cortejos, não é para assistir de camarote, é para participar. Dormir é para depois.

Atualmente, o agente de viagens fala numa forte concorrência que afasta os turistas desta cidade com três milhões de pessoas, que são os resorts de praia da chamada Linha Verde. Mas Sandro diz que não tem de ser assim. “Atualmente os que vêm em família e querem ir para o resort, tirem um dia para vir a Salvador. Mas eu aconselho que façam o contrário. Venham para Salvador, fiquem três, quatro noites e depois vão descansar no resort quatro noites também, para poder conhecer um pouco mais de Salvador, que tem muita história”, remata.

Como e quando ir?
O operador turístico Soltrópico dispõe de pacotes turísticos com voos da TAP para Salvador este inverno. As partidas estão programadas de 3 de novembro de 2023 a 30 de março de 2024, acontecendo às sextas, sábados e segundas. Os pacotes de sete noites estão disponíveis desde 1160€ por pessoa, em quarto duplo standard, em regime de pequeno-almoço, no B Hotel 3* (valor de referência para partida a 24.02.2024). Há outras opções de alojamentos de quatro e cinco estrelas. Para saber mais deve consultar uma agência de viagens.

*Viajou a convite da Soltrópico e da TAP Air Portugal

Artigo anteriorDescubra a nova Savana e o novo habitante do Jardim Zoológico
Próximo artigoPestana Palácio do Freixo homenageia arquiteto Nicolau Nasoni com jantar especial

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor coloque aqui o seu comentário
Por favor coloque o seu nome aqui