Por Paulo Pavão
Este é mais um dos destinos improváveis quando pensamos em passar uns dias de férias na Europa. No entanto, não deixa de surpreender pela diversidade de oferta histórica, cultural e belezas naturais. A Sérvia é um dos 10 países por onde passa o rio Danúbio, ao longo dos seus 2.850 km de percurso desde a floresta negra na Alemanha até desaguar no mar negro, em formato de Delta, na Roménia. No território deste país existem duas cidades, Belgrado e Novid Sad, que se localizam nas margens deste rio que é, o segundo maior rio da Europa.
Em qualquer umas destas cidades as vistas que se obtêm para o rio, são fascinantes e tranquilizadoras, permitindo belos momentos de contemplação. Para poder conhecer um pouco mais das suas belezas e do património histórico e cultural, a I Serbia Travel e a Air Serbia convidaram-me a fazer esta minha recente viagem pelo coração dos Balcãs. Os voos diretos da Air Serbia, que operam entre Lisboa e Belgrado às terças e sábados, facilitam agora a proximidade entre os dois países, numa viagem de apenas 3 horas e 30 minutos.
Processo de check-in e embarque a horas. Na chegada, o processo de imigração é muito simples e não existe necessidade de obtenção de visto, sendo apenas obrigatório possuir passaporte onde é registada a entrada e a saída do país. Rapidamente cheguei ao hotel, pois o percurso desde o aeroporto internacional Nikola Tesla faz-se em apenas 20 minutos. Após uma primeira noite de descanso e de um revigorante pequeno almoço, a guia já se encontrava à minha espera para iniciarmos a visita de dia completo à cidade de Belgrado. As principais atrações turísticas da capital sérvia e que tive oportunidade de visitar, são:
A fortaleza de Kalamegdan é um local histórico, com uma vista esplêndida para a confluência dos rios Danúbio e Sava. O atual castelo ocupa o local de antigas estruturas que remontam à época romana e onde se encontra também o museu militar e a capela de St. Petka.
O Templo do Santo Sava é fantástico e incrivelmente imponente, tanto no interior como no exterior. Esta Igreja Ortodoxa Sérvia é a maior dos Balcãs, com uma estrutura que pesa mais de 4 mil toneladas, a sua construção foi efetuada entre 1934 e 2004, existindo ainda hoje algumas obras no exterior. A igreja foi dedicada ao Santo Sava, o fundador da Igreja Ortodoxa Sérvia. O interior é fenomenal e deixa sem palavras qualquer visitante. A não perder, a visita à cripta, no piso inferior.
A Igreja de São Marcos é uma bonita Igreja Ortodoxa Sérvia, que remonta ao século XVIII. Encontra-se localizada no Parque Tašmajdan, perto do Parlamento da Sérvia. É uma das maiores igrejas em todo o país e o seu estilo arquitetónico carateriza-se pelo Renascentismo Sérvio-Bizantino.
A Catedral de St Michael ou São Miguel Arcanjo é a catedral ortodoxa de Belgrado e um dos lugares de culto religioso mais importantes do país, pois é a sede do patriarcado da Igreja Ortodoxa Sérvia.
O Bairro boémio de Skadarlijia é, há mais de 100 anos, o centro cultural e boémio de Belgrado. Aqui encontra-se grande parte dos restaurantes que oferecem comida tradicional acompanhada de música folclore e ambiente acolhedor.
A Assembleia Nacional / Parlamento é um local de passagem obrigatória e que todos desejam fotografar pois trata-se de um edifício histórico, bem conservado e que, desde a data da sua conclusão (1936- 2006) foi a sede do Parlamento da Jugoslávia e posteriormente, o Parlamento da Sérvia e Montenegro. Hoje em dia é apenas a assembleia nacional da Sérvia.
O Palácio Real é a residência oficial da família real Karađorđević. Foi construído entre 1924 e 1929 com fundos privados de Sua Majestade, o Rei Alexandre I. O palácio é um exemplo da arquitetura do renascimento servo-bizantino encontrando-se cercado por zonas verdes, piscinas e pavilhões. Atualmente o palácio é o lar do príncipe herdeiro Alexander, da princesa Katherine e dos seus três filhos.
O Museu da Yugoslávia Josip Tito é dedicado a Tito e à história da Jugoslávia. Para quem desconhece, pode aproveitar para aprender sobre o passado desta nação e de quem a governou durante 30 anos. Na cidade, existem mais alguns lugares de interesse como sendo o Museu Nacional de Belgrado ou o Museu Nikola Tesla, dedicado a este inventor, engenheiro eletrotécnico e engenheiro mecânico sérvio, conhecido pelas suas contribuições ao projeto do moderno sistema de fornecimento de eletricidade em corrente alternada.
A Rua Mihaelova é a principal artéria pedonal da cidade, repleta de lojas de comércio e com imensos edifícios históricos e restaurantes nas suas ruas adjacentes. Aqui afluem milhares de pessoas durante o dia, tanto locais como turistas. A visita ao estádio do Estrela Vermelha, os passeios pelos verdes jardins e pelas margens do Danúbio e do Sava são também boas opções para quem visita esta cidade, capital da Sérvia.
Belgrado sempre foi conhecida com uma cidade cinzenta, com uma forte presença arquitetónica soviética, um antigo parque automóvel e muita poluição. Hoje em dia, mostra-se com uma grande diferença e evolução, com novas e modernas construções, bastante comércio, bons restaurantes, uma vida muito cosmopolita e animada dos seus residentes. A cidade é também um ponto de partida para iniciar algumas rotas pelas várias regiões do país, visitando cidades históricas, mosteiros, parques nacionais, rios e cascatas, zonas vinícolas, etc.
A Sérvia é atualmente uma mistura de culturas, tendo sido historicamente disputada por romanos, otomanos, habsburgos e outros povos. Hoje em dia é um país de alegria, de muitos festivais e onde a cultura oriental e ocidental se encontram e onde as cidades medievais com imponentes fortalezas e antigos mosteiros emanam o seu charme. Para quem gosta de desportos de inverno, a Sérvia também tem boas estâncias de esqui.
Após a minha visita a Belgrado, no dia seguinte, segui viagem para Novi Sad, a segunda maior cidade do país e capital da região de Vojvodina, localizada a cerca de uma hora de distância (100 km). A viagem foi tranquila, pois existe uma auto-estrada em boas condições. A paisagem nesta zona é basicamente agrícola e, ao chegar a Novi Sad, existem algumas adegas vinícolas onde se podem provar ótimos vinhos. A cidade é banhada pelo rio Danúbio e, na margem sul, existe uma pequena localidade chamada de Patrovaradin que tem no seu topo uma fortaleza, um hotel e dois restaurantes. As vistas são fabulosas e também existe a tradição de deixar o cadeado do amor como amuleto para uma feliz vida amorosa.
Já na cidade, sente-se muita vida, devido aos muitos estudantes e muitas universidades. Na praça principal e ruas de comércio adjacentes existem muitas esplanadas, músicos a atuar ao vivo, lojas e cafés com esplanada.
Dá gosto andar pelas ruas cuidadas e limpas, apreciando a arquitetura de influência austro-húngara com edifícios coloridos e bem preservados. Bem perto de Novi Sad encontra-se o Parque Nacional de Fruska Gora, muitas vezes referenciado como a jóia da Sérvia devido à sua paisagem intocada, sendo também lar de um grande número de mosteiros ortodoxos históricos. Continuando para norte e a cerca de 105 km, novamente em boa estrada, cheguei a Subotica, uma cidade situada junto à fronteira com a Hungria. Foi uma excelente surpresa a visita a esta cidade que fez parte do império Austro-Húngaro até ao final da primeira Guerra Mundial, passando depois a fazer parte do reino dos sérvios, croatas e eslovenos. O centro da cidade encontra-se repleto de edifícios coloridos de arquitetura clássica de influência húngara.
Local de visita obrigatória é o edifício da Câmara Municipal, de tons avermelhados, construído no início do século XX. O edifício apresenta uma disposição simétrica com quatro pátios interiores e quatro entradas. O grande átrio é usado para reuniões da assembleia municipal, shows, casamentos e eventos importantes, devido à sua imponente escadaria de entrada. Existe ainda uma torre onde se pode subir e desfrutar da fantástica vista de toda cidade em redor. O edifício tem várias salas coloridas que convido a visitar.
A cidade de Subotica apela a um passeio a pé e acompanhado de um guia local que me explicou um pouco da história e me levou a conhecer a Igreja Sérvia Ortodoxa, a Catedral de Santa Teresa de Ávila, o Teatro Nacional, a Fonte azul, a Sinagoga, entre outros locais. Fiquei com vontade de explorar um pouco mais e talvez até dormir uma noite, mas havia que seguir o programa.
A 15 minutos de carro cheguei ao Lago Palic, com 3,5 quilómetros de comprimento e dois metros de profundidade máxima. Uma vez que está situado dentro de um parque nacional com o mesmo nome, é muito procurado nos fins de semana e no verão para atividades aquáticas e lazer com muitos espaços verdes, zonas de restauração e alojamento.
Regressado a Belgrado, foi altura de procurar outro restaurante para jantar. Junto à zona pedonal de Mihaelova ou de Skandarlija existem muitos restaurantes, todos eles com uma vasta ementa com pratos tradicionais e internacionais. Dependendo do número de noites de estadia, há que experimentar diferentes opções.
Algumas das sugestões são: April Beograd, Dva Jelena, Lorenzo & Kakalamba.
No dia seguinte o rumo foi para sul de Belgrado. A paisagem muda significativamente, e deixando para trás a cidade, o verde começou logo a dominar a paisagem. Era dia de visitar a região central de Sumadija, o Mausoléu dos reis da dinastia de Karadordevic, as grutas de Arandjelovac, com marcas pré-históricas, e a zona vinícola da região com o mesmo nome. O vinho sérvio é surpreendentemente bom, pelo menos os que tive oportunidade de experimentar. Como a produção é muito pequena, grande parte da mesma é consumida internamente e apenas uma porção muito residual é exportada para o exterior.
A minha visita à Servia terminava aqui, mas percebi que existe muito mais para ver, nomeadamente a cidade de Nis, berço de Constantino e de outros imperadores romanos, e onde se pode visitar a fortaleza da cidade, o campo de concentração nazi de Crveni Krst, o memorial da resistência entre outros monumentos e estátuas.
Existem muitos parques naturais pelo país e dada a situação geográfica é possível combinar a viagem via terrestre com países vizinhos como a Croácia, a Bósnia, a Macedónia e o Montenegro, todos eles com boas ligações aéreas para Lisboa, via Belgrado com a Air Serbia.
* Paulo Pavão trabalha na indústria do turismo há 20 anos. Adora conhecer o mundo e partilha a viagem que fez à Sérvia com os leitores do Vou Sair.