Por Paulo Pavão

Embarque nesta viagem à Nicarágua com Paulo Pavão, um português que trabalha na indústria do turismo há 20 anos. Adora conhecer o mundo e, neste artigo, partilha com os leitores do Vou Sair a última parte viagem que fez à América Central.

Eram 8h00 da manhã e já me encontrava no porto de La Unión para embarcar numa aventura e atravessar o Golfo de Fonseca frente ao oceano Pacífico rumo à Nicarágua. 

Parecia que os senhores da alfândega se tinham deixado dormir, mas disseram-me que iniciaríamos a viagem, e o procedimento alfandegário para sair de El Salvador seria feita numa ilha a meio caminho.

Assim foi, mas como a maré estava muito baixa, todos os barcos encontravam-se longe da margem. A solução foi ser levado em carreta até à embarcação para depois iniciar uma viagem de 2 horas até ao porto de Potosi na Nicarágua.

A embarcação era muito rudimentar e a ondulação era forte, o que tornou a viagem um pouco atribulada, talvez apenas recomendada a viajantes mais aventureiros.

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O porto de Potosi é muito simples e a chegada faz-se numa praia de areia negra com imensa vegetação em redor. Não se via ninguém, a não ser o representante da alfândega que aguardava a embarcação para iniciar o processo fronteiriço. Havia que preencher um documento, fazer o controlo de bagagem e pagar 13 USD de visto de entrada. Esta taxa apenas é paga em fronteiras terrestres e marítimas, uma vez que para quem entra via aérea este valor já se encontra incluído no bilhete de avião.

Meia hora depois, já me encontrava dentro da mini van da Geo Tours, em plena estrada, a caminho da minha primeira paragem, que seria a cidade colonial de León.

O caminho fez-se por uma via em muito boas condições, terreno plano, com bermas limpas e muito pouco trânsito. Um hora e trinta minutos depois chegava a León. Tinha muita curiosidade por conhecer esta cidade.


A cidade de León, fundada em 1523, foi capital da Nicarágua por mais de 200 anos até ser substituída pela atual Manágua. No passado, foi o principal centro político, militar, cultural e religioso do país. Situa-se a 70km da atual capital e a 15km do oceano pacífico. Nas proximidades existem vários vulcões (Telica, Santa Clara, San Cristóbal, Cerro Negro e Momotombo) e alguns deles permitem fazer atividades de escalada para os mais desportistas e aventureiros. Por exemplo, no vulcão Cerro Negro pode fazer-se a descida da encosta em prancha de board.

A cidade conserva uma grande variedade de estilos arquitetónicos, existindo diversas igrejas emblemáticas: San Juan Bautista, a mais rural de toda a Nicarágua, La Recolección, de estilo barroco, e San Francisco, La Merced e El Calvário, como exemplos de arte e cultura arquitetónica local.

A não perder é sem dúvida a Catedral de León, o maior edifício colonial de cariz religioso de toda a américa central. No interior podem ver-se frescos e pinturas a óleo de grande valor artístico e ainda o túmulo do famoso poeta nicaraguense, Ruben Dário.

Uma visita à catedral não fica completa sem a subida ao telhado e contemplar a soberba vista de toda a cidade e os vulcões em redor. Posso dizer que é algo que não me sai da memória até hoje. Imperdível é também a galeria do Heróis e Mártires da Revolução, exposta ao longo da 1ª Avenida, logo a seguir ao parque central.

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A gastronomia é de excelente qualidade e a cerveja local. Deixo a dica para o café/ restaurante Sesteo, local ideal para tomar uma bebida “Toña” – a cerveja local, ou para fazer uma refeição de almoço ou jantar. A sua localização, em pleno centro da cidade, permite admirar todo o movimento em redor de comerciantes, habitantes locais e viajantes curiosos. A decoração é de estilo colonial e a música que se houve transporta-nos no tempo fazendo-nos pensar o quanto vale a pena viajar por estas paragens e vivenciar todas estas experiências.
Outro produto bastante conhecido é também o rum Flor de Caña, muito apreciado por estas zonas e com grandes volumes exportação. Hoje em dia é possível visitar a fábrica e observar todo o processo de produção.

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Nesta cidade, recomendo ficar duas noites para se poder desfrutar tranquilamente de tudo o que ela oferece.

Quanto a alojamento não tenho melhor sugestão que não seja o Hotel El Convento, edifício do antigo Convento de São Francisco do Século XVII. Foi, sem dúvida, um dos melhores hotéis de toda a minha viagem.

Era hora de retomar caminho e seguir em direção à capital Manágua. Cidade com cerca de um milhão de habitantes e que nem sempre foi bem referenciada por falta de atrações turísticas, alguma insegurança e intensa poluição.

Surpresa! A cidade mudou; expurgou muitas das zonas degradadas e mal frequentadas, construiu espaços de lazer agradáveis e começou a atrair mais visitantes e eventos internacionais. É bastante agradável percorrer as avenidas e toda a zona marítima junto ao lago Manágua denominada de “Puerto Salvador Allende”. Aqui existem imensos espaços agradáveis de lazer, restaurantes, bares e zonas de recriação para os mais pequenitos.

No centro da cidade convém destacar a praça central ou praça da revolução, o Palácio Nacional da Cultura, o Museu Ruben Dário e a antiga catedral de estilo neoclássico, hoje desativada por ter sido enormemente danificada pelo terramoto de 1972. A sua estrutura externa mantém-se íntegra, mas o interior não permitiu a continuação dos serviços religiosos. A sua fachada assemelha-se à Igreja do Santo Suplício de Paris.

Depois desta agradável surpresa foi altura de seguir para mais uma experiência de natureza em estado bruto: a visita ao Parque Nacional do Vulcão Masaya.

A entrada faz-se por uma cancela onde se compram os bilhetes para o parque natural e a partir daí segue-se uma estrada por meio de um vale coberto de lava vulcânica resultante de várias erupções que ocorreram desde o século XVIII até aos dias de hoje. Chegado ao centro de visitantes, foi possível visitar o pequeno museu interpretativo que ajuda a perceber a evolução destas formações geológicas. No topo, temos o momento mais esperado que é poder observar a cratera do vulcão que continua a deitar fumo em grande quantidade conseguindo por vezes ver-se o lago de lava escaldante fundo do cone. Mais um momento único que não deve ser perdido, pois o vulcão Masaya é, dos 7 vulcões ativos na Nicarágua, o que tem mais atividade e consequentemente o mais visitado.

Perto do vulcão encontra-se a pequena cidade de Masaya com cerca de 180.000 habitantes. É a cidade do folclore e do artesanato e paragem obrigatória para visitar a feira de artesanato inserida dentro de uma antiga estrutura do mercado municipal que data do ano de 1900. Nas inúmeras bancas reina a cor das peças de artesãos locais, das telas pintadas retratando momentos da sua história e a simpatia contagiante dos seus vendedores. Ficava ali mais tempo, mas tinha que continuar, pois o meu guia Marlon queria mostrar-me outras maravilhas da Nicarágua.

Na verdade, era hora de almoço e havia que fazer uma paragem para degustar um dos pratos mais típico do país que se chama “caballo bayo”. É um prato que tem muitos elementos com várias carnes, tortilhas, arroz com feijão, banana frita e verduras. É um tipo de mistura bastante completa que geralmente é confecionada em ocasiões especiais. Uma autêntica delícia, principalmente para quem gosta de comer bem. 😊 A recomendação vai para o restaurante “Mi Viejo Ranchito”.

A próxima paragem foi mais uma grande surpresa, a “Laguna de Apoyo”. No miradouro de Catarina as vistas são de uma verdadeira tela. Em frente encontrava-se uma grande lagoa de cor azul rodeada de uma luxuriante vegetação. Um local idílico de fazer parar o tempo e ficar a contemplar a natureza. Será que isto existe mesmo? A Nicarágua revela muitas surpresas a quem a decide visitar e consegue despertar os sentidos a cada dia que passa. Estava muito feliz por estar ali e por ter incluído este maravilhoso país na minha rota de viagem.

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Já era tempo de descansar um pouco e a escassos minutos de viagem estava a entrar naquela que é o cartão de visita da Nicarágua, a cidade de Granada. É a cidade mais visitada, pois fica a cerca de uma hora do aeroporto internacional Augusto Sandino, em Manágua, e a 2h30 do aeroporto de Libéria na Costa Rica. Nas proximidades existem imensos locais que podem ser visitados, como as ilhotas do lago Nicarágua, a reserva natural da laguna de apoyo, o vulcão Masaya, e a ilha de Ometepe, na qual existem 2 vulcões e um grande parque ecológico. A cerca de 1 hora e 30 minutos de viagem localiza-se ainda a conhecida cidade balnear de San Juan del Sur, cuja praia é banhada pelo oceano pacífico.

Granada mantém uma forte traça colonial e ao passear pelas suas ruas facilmente nos transporta aos séculos XVII e XVIII. A presença religiosa faz-se notar pelas suas inúmeras igrejas e conventos.


Em destaque está a catedral renascentista do século XVI com as suas cúpulas vermelhas e paredes amarelas, que levou cerca de 181 anos para ser concluída. Apresenta um excelente estado de conservação e encontra-se no coração da cidade, em pleno parque central, onde em redor estão vários edifícios de época.

A Igreja de la Merced é outro exemplar religioso a visitar e aqui podemos subir à torre e deslumbrar-nos com uma ampla vista sobre a cidade com o casario colorido e os seus telhados que se estendem até ao lago Nicarágua.

O mercado local é sempre um ponto a visitar de forma descontraída para sentir o pulso do dia a dia dos comerciantes e dos locais que ali afluem para comprar os seus bens alimentícios, e não só.

A Calle Calzada é a principal rua pedonal onde existem a maioria dos restaurantes, bares, lojas e também algumas opções de alojamento. A própria calçada apresenta várias imagens coloridas e empedradas que caracterizam a cidade e as suas atividades.

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Ao lado de Granada também não podia faltar mais uma força da natureza, o vulcão Mombacho, com cerca de 1.344 metros de altitude e ao qual se pode subir. As vistas ficam para quem se atrever a esta aventura.

Quanto ao alojamento, grande parte dos hotéis em Granada, tal como em outras cidades, estão localizados em antigas casas coloniais ou conventos, o que torna ainda mais autêntica a experiência da viagem. Nesta cidade recomendo o Páteo la Malinche, o Colonial Granada, a Casa del Consulado, o Plaza Colón e o emblemático Hotel Dario.

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Apetecia ficar por esta cidade mais alguns dias e continuar a explorar as maravilhas deste surpreendente país, mas infelizmente, a minha viagem estava a terminar e restava-me aproveitar a última noite.

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No dia seguinte, após um último passeio pelas ruas coloridas e animadas da cidade, lá me esperava o motorista para me levar ao Aeroporto de Manágua e embarcar num voo com destino à cidade do Panamá onde faria a ligação para Lisboa.

A Nicarágua não tem voos diretos desde a Europa, pelo que a melhor forma de chegar será utilizar as cidades do Panamá, São José na Costa Rica ou San Salvador.

Chegou assim ao fim um percurso de 15 dias por quatro países da América Central, Guatemala, Honduras, El Salvador e Nicarágua.

Tanta natureza, tanta história, tantas experiências culturais e gastronómicas, tanta gente calorosa e hospitaleira que irão perdurar na minha memória por longo tempo. Sei que irei regressar e por isso deixo um até já.

Paulo Pavão – Trabalha na indústria do turismo há 20 anos e adora conhecer o mundo. É um viajante e não um turista. Recentemente fez uma viagem pela América Central que agora relata em vários artigos no Vou Sair.

LEIA TAMBÉM:

Diários de Viagem: Da Guatemala à Nicarágua… por lagos, vulcões e antigas civilizações maias (Parte I)

Diários de Viagem: Da Guatemala à Nicarágua… por lagos, vulcões e antigas civilizações maias! (PARTE II)

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