Paisagens fascinantes, falésias de cortar a respiração, botânica, fauna e história concentram-se no Caminito del Rey, um impressionante passadiço no coração de Málaga. O caminho, considerado um dos mais perigosos do mundo, oferece uma viagem emocionante a mais de 100 metros de altura através do Parque Natural Desfiladero de los Gaitanes.
O Caminito del Rey é excitante muito antes de começar. A sinuosa estrada de acesso leva ao belo reservatório azul turquesa Conde de Guadalhorce, presidido pela casa do engenheiro Rafael Benjumea e pela imponente montanha rochosa. Entre os municípios de Ardales, Antequera e Álora situa-se um dos fenómenos geológicos mais enormes do sul da Península, o Parque Natural Desfiladero de los Gaitanes. Esta área natural, que cobre mais de dois mil hectares, esconde um tesouro geológico de flora e fauna de incalculável valor ecológico.
Na estrada, do Caminito é dado um capacete de segurança que deverá ser usado durante todo o percurso. A recuperação ambiciosa deste caminho secular oferece agora um lugar privilegiado para desfrutar de uma arqueologia industrial única. A obra titânica de recuperação foi premiada nos Prémios da União Europeia para o Património Cultural Europa Nostra pela magnífica obra de engenharia para resolver a deterioração gradual desde a sua construção, e pelo inovador sistema de construção que deixou intacto parte do caminho original.
Em Los Gaitanejos encontrará as chamadas escadas de chocolate, e descendo-as pode obter uma vista de perto do lago e de uma pequena cavidade onde foi encontrada uma espinha de salmão usada como agulha por caçadores neolíticos.
No final do primeiro desfiladeiro, sob os seus passadiços, é possível ovservar os restos da primeira estrutura metálica utilizada para as obras do canal, e a linha ferroviária que, a partir de agosto de 1865, permitiu a Málaga sair do seu cerco montanhoso. Mais adiante, a impressionante pequena ponte que originalmente uniu a ferrovia e a ponte pedonal, e que serviu de ponto de descarga de material, ainda está de pé. Foi aqui que Alfonso XIII concluiu a sua visita real ao Caminito del Rey, que não chegou a percorrer na totalidade.
Ao sair do primeiro desfiladeiro, surge um conjunto de montanhas, que alberga um vale encantado, o Valle del Hoyo (Vale do Buraco). Esta majestosa zona central do desfiladeiro corre paralelamente aos canais antigos. É, sem dúvida, o local ideal para descansar e comer alguma coisa. Seguindo o caminho, chegará às ruínas da Casa del Hoyo, que foi habitada muito antes do início dos trabalhos no Caminito del Rey e onde foram encontradas cerâmicas medievais, aparentemente datadas do século XIII, o que indica que houve uma construção anterior no local.
A varanda de vidro e a ponte suspensa
O último grande trecho do Caminito del Rey é mágico e impressionante. Mais de 100 metros acima do nível do rio, o percurso serpenteia ao longo das paredes do desfiladeiro e oferece uma paisagem de cortar a respiração. Um dos destaques é a varanda de vidro suspensa no passadiço, que não é para os fracos de coração, porque a sua base de vidro transporta-o para o vazio. Mais à frente pode observar um fóssil de amonite que prova a origem marinha destas montanhas, que há milhões de anos eram autênticas praias Jurássicas.
Seguindo a ponte pedonal chega-se ao testemunho emblemático e vertiginoso do que outrora foi a estreita ponte pedonal. Depois de passar por uma placa em memória de alguns desportistas que aqui perderam a vida, surge o outro ponto alto do Caminito del Rey: a velha ponte do aqueduto, que fica a mais de 100 metros acima do rio, e que desde 1904 tem sido utilizada para atravessar a água de um lado para o outro.
E em paralelo, a nova ponte suspensa, com uma profundidade superior a 34 metros, enche o estômago de borboletas só de pensar em cruzá-la. Entre vertigens, a grade da ponte suspensa é uma vitrine do abismo sob os nossos pés, um momento cheio de magia entre o som da queda das águas, o voo dos abutres, o leve balanço vertical da ponte, o vazio e a grandeza do homem por empreender esta construção sensacional.
O Caminito del Rey termina acima da linha ferroviária, que é atravessada por um lance íngreme de degraus e, após uma subida íngreme, chega-se a terra firme. Uma caminhada suave e agradável leva-o ao ponto de partida em Álora, em frente às águas calmas da barragem de El Chorro. A sensação mágica de ter caminhado através do céu é deixada para trás.
Informações extra sobre a rota
O Caminito del Rey percorre o Parque Natural Desfiladero de los Gaitanes e cobre uma distância de quase 8 quilómetros – 5 km de acessos e 3 km de passadiços – num percurso linear que demora cerca de cinco horas a completar. A visita pode ser guiada (18 euros) ou autoguiada (10 euros, aos quais devem ser adicionados 1,55 euros para que o autocarro regresse ao ponto de partida).
O número máximo de pessoas que podem aceder ao caminho é de 1.100 por dia, por isso possui uma lista de espera de vários meses, logo é aconselhável planear a sua visita com antecedência. As reservas devem ser feitas online. Não são permitidas crianças com menos de 8 anos de idade na rota, e não é recomendado para pessoas que não estejam fisicamente aptas ou que sofram de vertigens.