Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, dois ilustres exploradores portugueses do século XIX, que juntos fizeram a travessia do continente africano entre Angola e Moçambique, estavam longe de imaginar que as suas viagens iriam servir de fonte de inspiração a um hotel no século XXI. Mas eis que inspiraram, e bem, o The Ivens, o novo hotel em Lisboa que abriu no último trimestre de 2021, pelas mãos dos mesmos proprietários do LX Boutique Hotel (situado no Cais Sodré), e com assinatura da marca The Autograph Collection, da Marriott.
O The Ivens está situado na confluência da Rua Ivens com a Rua Capelo, no bairro do Chiado, em Lisboa.
O conceito do The Ivens sobre as expedições destes dois notáveis é evidente assim que se transpõe a entrada: começa nas fardas usadas pelos colaboradores, ou melhor, “exploradores”, e prolonga-se na decoração, da autoria de Lázaro Rosa-Violan e Cristina Matos. O arquiteto catalão ficou responsável pelas áreas comuns e do restaurante Rocco, enquanto a arquiteta portuguesa fez a decoração dos quartos, lobby e receção do hotel.
Se no lobby e na receção impera a madeira escura no chão, paredes e teto, plantas tropicais, cadeirões de veludo e outros tecidos com padrões alusivos à fauna e flora, nos quartos, a decoradora optou pelas cores sóbrias, como os beges, os brancos e os verdes, mantendo apontamentos de cor nos papéis de parede e nas carpetes — todos eles alusivos também à fauna e flora. Nas casas de banho dos quartos predomina o chão a preto e branco; enquanto que nas suites destaca-se o mármore. As paredes dos corredores pintaram-se de azul petróleo e nelas foram colocadas fotografias e documentos de época. No chão, estendeu-se uma longa carpete com motivos geométricos. Não faltam livros e revistas de viagens e histórias de países longínquos a adornar as mesas e as estantes, assim como não faltam também animais na decoração, um pouco por todo o hotel, desde araras, besouros, papagaios, elefantes e até um macaco, seja em esculturas ou em imagens, num balanço harmonioso com a restante decoração.
É uma hotelaria de detalhes aquela em que aposta o The Ivens, de que são exemplo a fragrância personalizada pela marca Jo Malone London para o hotel, mas também o The Ivens Explorer Book. Neste livro, que se encontra, no lobby, os hóspedes são convidados a partilharem as suas experiências na cidade de Lisboa. Depois, a cada trimestre, o hotel faz uma curadoria destas experiências que dão origem aos cartões deixados no serviço de turndown nos quartos com as dicas do dia.
Os 87 quartos estão divididos em cinco tipologias – do standard às suites de assinatura, com terraço e vista para o rio.
De volta ao lobby, para referir ainda a existência de uma biblioteca vertical com livros de autores que foram, em cada uma das suas áreas, também exploradores de novas técnicas, como Steve McCurry, Sebastião Salgado ou Picasso.
Voltamos ao lobby, porque é daqui também que partimos para uma nova descoberta. Uma porta discreta, e até misteriosa, é a passagem para um mundo novo no hotel: o Restaurante Rocco. Ao passarmos a porta, a primeira coisa que desperta a atenção é o bar, peça central do Gastrobar, o primeiro de três espaços distintos que compõem a oferta do Rocco. Com 33 lugares, os clientes podem admirar a garrafeira imponente, e escolher uma ou várias das suas referências para acompanhar os pratos da carta, que é típica de um bar de hotel, mas mais sofisticada.
No Crudo Bar, o segundo espaço do Rocco, a decoração e a carta, bem como a exposição de mariscos e bivalves, trazem à mesa e às papilas gustativas os sabores do mar que banha Itália.
Na sala principal, de 56 lugares, as cores quentes conjugam-se com os apontamentos italianos, uma cativante exposição de vinhos e distintos universos de show cooking – com destaque para o grill e carnes maturadas.
O Restaurante Rocco tem porta para a rua, por querer incluir-se na vida do Chiado e afastar-se da ideia de restaurante de hotel. A avaliar pela afluência que encontrámos ao jantar – diríamos que esta é já uma aposta ganha.