Depois de 15 viagens à Madeira, de ter visitado praticamente todos os locais mais conhecidos, incluindo o Pico do Areeiro e o Curral das Freiras, ter ido ao Cabo Girão, andado nos carrinhos de cesto, ter andado em mais do que um teleférico, experimentado as iguarias da gastronomia madeirense, ter mergulhado nas águas transparentes da Madeira, ter visitado o mercado dos Lavradores, tenho de confessar: nunca tinha feito uma levada (e também não tirei uma foto com o busto do Cristiano Ronaldo no aeroporto da Madeira). Nunca fiz uma caminhada numa levada, não por falta de vontade, mas por pura inércia. Então, decidi que a minha próxima viagem à Madeira seria dedicada a explorar a natureza da ilha e a fazer levadas. Não passaram nem seis meses desde a última viagem que fiz à Madeira, mas esta era como se fosse a primeira, já que o plano era fazer o que nunca fiz na ilha. Nem de propósito, o Turismo da Madeira lançou esta semana um anúncio protagonizado por Cláudia Vieira e Lourenço Ortigão. A campanha, em vez de tentar mostrar integralmente os deslumbrantes cenários do arquipélago, revela, apenas, uma parte dos mesmos, fomentando a curiosidade do utilizador. Desta forma, todos aqueles que nunca visitaram a Região, são convidados a fazê-lo e, assim, a “Viver a Madeira por inteiro”. Foi o que fizemos no início deste mês.
Para quem nunca fez uma caminhada numa levada ou vereda, é bom explorar primeiro as diversas opções que existem na ilha, e existem muitas, com vários graus de dificuldade, extensão e duração. O site do visitmadeira.com é um bom começo para preparar a viagem. Podemos encontrar informações úteis , tais como um pequeno descritivo da paisagem que vai encontrar ao longo de cada percurso, a duração, os quilómetros, grau de dificuldade e o ponto de partida. Há também sugestões de empresas que organizam caminhadas e outras atividades na natureza.
Quando consultei o site, já levava referências das levadas que iria fazer. Recomendaram-me a Levada do Rei, que fica na Costa Norte e tem 5,3 quilómetros (10,6 km ida e volta) e uma duração aproximada de 3h30 para completar o percurso de ida e volta. Vi a fotos (cada descrição é acompanhada de uma fotogaleria) e fiquei absolutamente rendida: o percurso passava pelo meio da floresta Laurissilva e de uma cascata. É preciso lembrar que as levadas são caminhos que acompanham os canais de rega que transportam água doce das montanhas do norte, muito húmidas, para o sul, mais seco da Madeira. Existem dezenas de percursos que nos fazem mergulhar na natureza da Madeira, tão pura e tão bonita. A outra sugestão foi a Levada do Alecrim na Costa Oeste. Apesar de mais curta – são 3,5 km (7 km ida e volta) e de dificuldade fácil, apresenta o mesmo grau de sedução (pelo menos para mim), já que o percurso termina numa lagoa.
Aterrámos na ilha por volta das 10h00 de uma sexta-feira e o regresso seria no domingo. Depois de levantar o carro, fomos diretos à Levada do Rei, uma vez que fica na Costa Norte e a distância do aeroporto até ao ponto de partida é de 35 minutos. No percurso até à levada fizemos uma paragem técnica para comprar água e bebida já que o plano era almoçar durante a caminhada.
Recorrendo às indicações que estão no site do visitmadeira.com é fácil encontrar os pontos de partidas, basta colocar a localização no GPS e, já no local, percebemos que estamos no sítio certo porque há outras pessoas que vão fazer o mesmo (mas não muitas). Os percursos também estão bem sinalizados, nos pontos de partida existem placas com mapas e informação útil e de segurança.
Não passaram nem 200 metros desde que iniciámos o percurso e já tinha a certeza que tinha feito a escolha certa (não da levada, dessa nunca tive dúvidas), mas da escolha do calçado. Nesta altura do ano – início de fevereiro, o piso está lamacento e escorregadio, pelo que os ténis ou botas de montanha são mesmo o mais adequado. Imagino que não seja muito diferente noutras alturas do ano, já que estamos em zona de montanha e floresta, onde os níveis de humidade são mais elevados. Além disso, devido à vegetação densa, há locais onde o sol não chega. No percurso cruzamo-nos com poucas pessoas, a maioria são estrangeiros, de todas as idades, e até crianças a pé ou carregadas ao colo pelos pais. Há partes do percurso mais estreitas onde só passa uma pessoa, e é preciso cuidado e não distrair-se com a paisagem (que é bem possível que aconteça). Ao longo da caminhada e até chegar ao Ribeiro Bonito, onde termina a levada, encontra-se todo o exotismo da floresta da Madeira, ribeiras e cascatas – numa delas o percurso passa por trás. Chegados ao Ribeiro Bonito, encontramos um cenário natural idílico, isolado e coberto pela vegetação densa característica da floresta Laurissilva. Regressámos depois ao ponto de partida e o percurso durou cerca de 3h30 como previsto, talvez um pouco mais, porque também nos demorámos a contemplar a paisagem, a fotografar e filmar, mas tudo tranquilamente e na paz da floresta.
No dia seguinte, o programa exigia algum rigor nas horas para completar tudo o que nos propusemos fazer, a levada do Alecrim, a ida à Praia do Seixal e terminar com um pôr do sol no Paul do Mar. Apesar de ser sábado, não encontrámos um elevado número de pessoas nos percursos. A levada do Alecrim tem início na Estrada Regional n.º 105, no Rabaçal, partilhando o mesmo ponto de partida com a Levada das 25 Fontes, a Levada do Risco e a Vereda da Lagoa do Vento, por essa razão estariam mais pessoas do que se calhar esperávamos. Acabámos por nos enganar no local de partida da levada do Alecrim e fizemos a Vereda da Lagoa do Vento, que a determinada altura tem ligação à levada do Alecrim. Ou seja, foi um dois em um inesperado (e cansativo), mas compensador. O ponto alto foi a Lagoa da “Dona Beja” com a sua cascata, e onde termina a levada.
Feitas as levadas, queríamos muito conhecer a Praia de Seixal, uma praia de areia negra e com uma paisagem arrebatadora, proporcionada pelas montanhas verdejantes e quedas de água. Fica na costa noroeste da ilha da Madeira e vale mesmo a pena a visita, não só pela paisagem que vai encontrar nesta praia, mas pela beleza do percurso que se faz até lá. Apesar de estarmos na Costa Norte, atravessámos a ilha para o sul, com destino ao Paul do Mar, pequena vila piscatória e paraíso dos surfistas na Madeira. Pedir uma bebida num dos bares em frente ao mar e ficar a ver o pôr do sol é algo que os madeirenses fazem muito. E nós fizemos o mesmo no Bar de Pedra “o Poleiro”.
Nascer do sol no Pico do Areeiro
O domingo estava reservado para uma atividade também nunca antes realizada (embora tenha havido já tentativas), ver o nascer do sol do Pico do Areeiro. A Adventureland é uma das empresas de animação turística da Madeira que faz passeios 4×4, incluindo um tour para ver o nascer do sol. Às 6h30, António, o nosso guia-motorista, foi buscar-nos ao hotel no Funchal. Não sabíamos se iríamos ter sorte e se as condições meteorológicas permitiriam assistir ao espetáculo natural de ver o nascer do sol acima das nuvens. À medida que nos aproximávamos do Pico do Areeiro que fica a 1818 metros de altitude (mesmo assim não é o ponto mais alto da ilha, é o terceiro), percebemos que não fomos bafejados pela sorte. O nevoeiro não iria permitir uma vista espectacular. Foi nessa altura que fiquei contente por estarmos a fazer um tour com a Adventureland. O António levou-nos a ver o nascer do sol de outro local (não posso dizer se mais ou menos bonito que o do Pico do Areeiro, mas era incrível): o Miradouro dos Balcões. Daqui avistam-se vales cobertos pela mancha verdejante e densa característica da Laurissilva e, em dias de boa visibilidade, consegue-se ver a cordilheira central da ilha, onde se destacam o Pico do Areeiro, o Pico das Torres e o Pico Ruivo. Se a vista já é deslumbrante durante o dia, imaginem com o nascer do sol e os primeiros raios a atravessarem as montanhas. Dez pontos para o António que não deixou que as nossas expectativas saíssem defraudadas. O passeio tinha o pequeno almoço incluído e tomámos ali mesmo no miradouro.
Em seguida, voltámos à estrada (com algumas incursões fora dela) para continuar o nosso tour que nos levou ao mercado de domingo do Santo da Serra, mas antes uma paragem no café Moínho, para uma poncha e comer um torresmo. O mercado do Santo da Serra não tem a espetacularidade do Mercado dos Lavradores, no Funchal, mas é genuíno o suficiente para nos conquistar.
O único problema de um tour para ver o nascer do sol de um local espetacular é que tudo o que vem a seguir pode não parecer assim tão espetacular. Mas não foi o que aconteceu. Desde o passeio no mercado, ao contacto com os locais, e a viagem por estradas menos conhecidas, tudo esteve ao nível das nossas expectativas, que já eram altas dos dias anteriores. Este tour custa desde 180€ e pode incluir o pequeno almoço (preço sob consulta).